Do Blog do Abelha
Água, sempre Água! Lençol subterrâneo gigante: é o Aquífero Guarani
Ricardo Arnt
Não bastasse a concentração de água doce em território brasileiro, com as bacias fluviais do Amazonas, do São Francisco, do Paraná e do Paraguai, há mais, muito mais, debaixo do solo. Na década de 50, a Petrobrás descobriu o Aqüífero Guarani, um vasto lençol subterrâneo que corre por oito estados e três nações vizinhas.
Agora, a Embrapa começou a tomar as primeiras providências para que essa riqueza estratégica não seja contaminada por agrotóxicos. Todas as lavouras existentes sobre o aqüífero estão sendo mapeadas.
Em 1997, o geólogo Gerôncio Albuquerque da Rocha, do Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE), calculou o volume do Guarani. Seu manto de arenito poroso embebido em água se estende por 1,3 milhão de quilômetros quadrados (uma área maior que a França, Espanha e Portugal juntos), contendo 50 quatrilhões de um dos líquidos mais puros do planeta. Trata-se de água da chuva que escorreu lentamente para o subsolo, durante 100 milhões de anos, depurando-se, e que ocupa, hoje, profundidades entre 50 e 1 500 metros. O suficiente para abastecer a população do mundo inteiro por uma década. É mais do que a água que corre em todos os rios do planeta em um ano (isto é, 43 quatrilhões de litros). O Brasil é o maior proprietário de água potável do mundo.
O Guarani repousa embaixo da terra praticamente intocado. Abastece apenas algumas cidades, como São José do Rio Preto (cuja excelência da sua cerveja advém da pureza da água do aqüífero). E pode ser a solução de longo prazo para grandes densidades urbanas ou áreas em processo de desertificação, como o oeste do Rio Grande do Sul e o sul de Goiás. Não é um mar subterrâneo nem um lago, mas uma camada de arenito poroso encharcada de água – uma espécie de esponja rochosa. Em alguns pontos, cavando-se um poço artesiano a água jorra sem ajuda de bombas.
Como se sabe, 97,3% da água do planeta está nos oceanos; 2% nas calotas polares e no vapor d´água da atmosfera, inacessíveis; o 0,7% restante dos rios, lagos e aqüíferos é o que nos abastece. Enquanto os povos do Oriente Médio penam por algumas gotas e guerreiam por água, a exemplo do que ocorre com a ocupação israelense das nascentes nas colinas de Golan, o brasileiro é dono de 20% do total da água potável disponível na Terra.
Para nós, o risco de esgotamento é remoto, desde que o Brasil adquira a competência de preservar suas fontes murmurantes e manejar a abundância com método. Objetivo do qual está muito, muito, longe. O desperdício brasileiro só pode ser comparável à sua abundância. A piada entre os estudiosos é que, para tomar um copo dágua, gastamos mais dois lavando o copo ¾ e vão-se três. Efetivamente, na Região Sudeste, as próprias companhias de abastecimento perdem, em média, 30% da água tratada em vazamentos.
E no Nordeste ¾ onde falta água! ¾ a perda, em algumas cidades, chega a 60%! Duro, né? “Se isso não mudar”, diz o geólogo Aldo Rebouças, da Universidade de São Paulo, “pode haver muita água no país, mas um dia vai faltar na nossa torneira”. Em cinqüenta anos, a água será uma commodity e as ações de companhias de água serão blue chips na Bolsa de Valores. Hoje, a Coréia já exporta navios-tanque de água doce para o Japão. Qual será o papel do Brasil num futuro de escassez de recursos hídricos?
Fonte: ISA - INSTITUTO SOCIO-AMBIENTAL - www.socioambiental.org
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