quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Quantos irmãos de Lula morreram, afinal?

por Jair Alves - dramaturgo


O jornal Folha de S.Paulo trouxe nesta segunda-feira numa de suas manchetes, dia da internação do ex-presidente Lula para tratamento de saúde, a afirmativa de que dois de seus irmãos teriam morrido de câncer. A indução a um pensamento fatalista é obvia, a de conduzir os menos avisados à conclusão de que “a festa acabou” e que, a partir de agora, só nos resta engolir a maneira sórdida que se pretende conduzir os destinos da Nação. Muito além desta pequena manipulação e outras mais desprezíveis que circularam nas últimas horas, está colocada na ordem do dia uma questão crucial para os contemporâneos: quantas pessoas morrem, diariamente, por falta de assistência e prevenção à saúde física e mental? Num país em franco desenvolvimento econômico, é inadmissível que filas de desesperados se formem em busca desta assistência; é esperado que alguma luz surja ao final do túnel e que, finalmente, se entenda que o perigo de morte de cada cidadão brasileiro tem a ver com cada um de nós. Mas, afinal, quantos irmãos de Lula morreram? - “Eu lhes direi”.



Os mensageiros da desgraça humana se deliciam com a dor alheia, sem se darem conta do escárnio que cometem. Não queiram os mesmos experimentar o veneno de perder um ente querido, um amigo, um parceiro de trabalho e, se isso lhes acontecer terão que engolir todas as contradições deste mundo moderno que abriga e pertence a todos nós. Muitos “oportunistas de plantão” preferem fechar os olhos, a entender que pouca diferença há entre a saúde publica e a privada. A ameaça existe e não escolhe vítima, não avalia conta bancaria, muito menos o poder aquisitivo do paciente. A diferença persiste na quantidade, e não exatamente na qualidade. Dias atrás o amigo cineasta, Carlos Reichenbach, veio a público para testemunhar nessa direção. Nosso depoimento vem de uma experiência dolorosa vivida no acompanhamento de uma pessoa querida ao calvário. Após fazer uma via sacra por clinicas especializadas (particulares) à procura de uma solução para extirpar um tumor num dos pés (caso que ficou conhecido como o Pé Esquerdo da Jornalista), a profissional foi acolhida no Hospital A.C.Carvalho e ali uma junta médica multidisciplinar conseguiu o que parecia impossível - a cura.


A fatalidade, da mesma forma, pode acontecer a qualquer um de nós. E, ao contrário dessa piada de mau gosto de que o ex-presidente deveria sofrer as conseqüências das más condições da saúde publica brasileira, sendo tratado através do Sistema Único de Saúde (SUS), é oportuno destacar que ele já experimentou na pele a perda de uma pessoa querida (sua primeira esposa) muito antes de se tornar o que é hoje - um personagem de importância internacional.
Outra observação! Lula, ao contrário do tentam fazer crer, não é pobre, tem uma riqueza singular, fruto de seu talento, sinceridade, e da oportunidade que sempre buscou não só para si, mas para todos os brasileiros. Portanto, pode e tem o dever de cuidar de sua cura da forma mais eficaz que dispomos - os avanços da medicina hospitalar brasileira. Ninguém protestou nem fez piada quando o seu grande amigo, o ex-vice-presidente José de Alencar, foi internado dezenas de vezes neste mesmo hospital
osso Carlão celebra (foto acima) a vida, a arte e o cinema brasileiro.

Resta ainda a pergunta: afinal, quantos irmãos de Lula morreram de câncer?

"Eu vos direi”:

Todos os dias milhares de brasileiros, também seus irmãos, morrem ou são salvos pela mesma medicina nos hospitais brasileiros. Quando acompanhavamos a jornalista em seu vitorioso tratamento do A.C.Carvalho, em São Paulo, aprendemos que tão importante quanto à prevenção contra todas as doenças de grande proporção, é uma campanha para a detecção destes transtornos onde eles já se encontrem. Aprendemos, ainda, qualquer que seja o Sistema Hospitalar (público ou privado) ainda hoje não comportaria de imediato um “pente fino” um check-up generalizado em toda a população brasileira, porque não haveria infra-estrutura para dar prosseguimento ao tratamento e às conseqüências dessa detecção. Esta desorganização no serviço de saúde diz respeito a todos, e isso não dá o direito a nenhum privilegiado de fazer troça do sofrimento alheio.

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