quinta-feira, 9 de junho de 2011

Crack e o óxi: epidemia socialmente incontrolável


O crack se instalou nas principais cidades do planeta e se tornou uma espécie de epidemia socialmente incontrolável e com consequências destruidoras para os usuários.

É o que revela a Pesquisa sobre a situação do Crack nos Municípios Brasileiros realizada recentemente pela Confederação Nacional de Municípios.

O estudo esclarece o caráter onipresente da droga em território nacional ao cravar a estatística negativa na qual 98% das cidades brasileiras relatam casos de consumo de crack.

Foto: Victor Moriyama

O balanço segue ladeira a baixo e revela o despreparo do Estado em lidar com o problema: 91% dos municípios não possuem programas próprios para tratamento de viciado.

A falta de amparo governamental, entretanto, não é nenhuma novidade entre os usuários: "A assistência social vem até aqui, nos convence a voltar pro albergue e diz que vai colocar a gente no mercado de trabalho, que vai recuperar a gente e etc. Já esperei oito meses e desisti, fui embora e prefiro morar na rua", me relatou um usuário.

Os albergues públicos, ofertados pelas prefeituras como alternativa aos moradores de rua, acabam se tornando locais renegados em que as divergências culturais se intensificam a cada pernoite.

"Fumei meu
monza inteiro"


Em São José dos Campos, interior de São Paulo, a disposição para se reintegrar a sociedade é enorme e consenso entre usuários. Alguns alegam a incapacidade incutida no vício, outros tem o sonho de ter uma "conversinha" com o prefeito a fim de esclarecer algumas "questões sociais".

Os estigmas de preconceito que os usuários carregam são tão fortes que o processo de reintegração a sociedade se torna um túnel cuja luz em seu final é apenas a pedra no cachimbo."Não vejo saída, mas gostaria muito de ser ajudado. Quem vai dar emprego para mim?",  me contou entrestecido certa vez um travesti.

De modo geral, a dependência impede a volta dos usuários a vida normal, muitos perderam o controle e viram sua estrutura familiar ruir em poucos meses. Ruan gastou 40 mil reais em apenas 3 semanas entre festas em hotéis e longas tragadas de crack. "Fumei meu monza inteiro" conta outro usuário.

Tive a oportunidade de registrar alguns usuários nas regiões centrais das cidades de São Paulo e São José dos Campos (SP) e notar traços de uma permanente inquietação. Alguns personagens, depois do uso mostravam um comportamento transtornado, e as alucinações eram constantes.

Muitos me relataram seu desejo em sair do vício, qualificado como incontrolável, mas esbarravam na falta de amparo do Estado em oferecer clínicas de tratamento ou mecanismos de ajuda. Outros classificavam a droga como uma "manifestação do Diabo", uma mescla de desejo e prazer mas, principalmente, o consumo era dominado por sensações de medo e pânico.

Suas histórias de vida relatam o verdadeiro drama de quem vive na rua. O desligamento social se impõe como irreversível e trava uma batalha diária. Apenas os fortes sobrevivem. Os "companheiros" do vício cumprem o papel da família sanguínea, que a essa altura deu ao indivíduo como um ser perdido
para o mundo das drogas e sofre sua dor exclusiva.

"Quem vive nessa vida de nóia não tem amigo! Se você deixar, maluco rouba sua camiseta para tentar trocar por pedra" relata Ruan. Compreender a abrangência do impacto psicológico que uma família sofre ao ver seu "chefe" dominado pelo vício, não é uma tarefa fácil.

Especialistas indicam que o ápice do efeito da droga se da nos 3 primeiros minutos e pode se prolongar, de forma reduzida, até 10 minutos. Trata-se de um efeito rápido, de curta duração e que leva o usuário a querer estar novamente sob efeito dá droga.

Estima-se que um viciado pode chegar a morte em 7 anos ao usar a droga todos os dias. Para "encrementar' o mercado, os vendedores da droga introduziram uma nova moda no país, o Crack colorido, cujas pedras variam nas cores azul, verde e rosa.

No ramo dos negócios vale tudo para atrair a freguesia. Este artifício do mundo fora da lei, chega ao mercado consumidor num momento de expansão da droga rival, o lixo do crack que ainda não se instalou em todo o país. É o Óxi - "oxidado" - é produzido a partir da pasta de coca com o acréscimo letal de cal virgem e querosene. A mistura é extremamente tóxica e segundo "especialistas", já que é ambígua a existência de um especialista num fenônemo novo, pode levar a morte em menos de três anos.

O crack é fabricado a partir da mistura de bicarbonato de sódio com uma pasta de cocaína. A palavra "crack" vem do inglês “to crack” associado ao barulho que as pedras fazem quando queimadas. O óxi, por sua vez, libera, durante a combustão, um óleo extremamente tóxico que pode ser reaproveitado pelo usuário se misturado ao cigarro, fator que amplia o nível de dependência da nova droga.

Ambos são consumidos em cachimbos improvisados ou em latas de alumínio e contam com o auxílio das cinzas de cigarro colocadas embaixo da pedra durante o consumo. Nas bocas de fumo o valor da pedra de crack é padronizado e custa em média 5 reais, já o Óxi sai pela metade do preço.

Com o objetivo de acelerar a disseminação do oxidado, os pontos de venda da droga lançam uma nova promoção para facilitar a aquisição do produto, 3 por 5.

Victor Moriyama, 26 anos, é repórter fotográfico do Jornal O Vale, em São José dos Campos, cidade que reside atualmente. Estreia hoje a coluna Fotógrafo-escreve no NR. 

Um comentário:

  1. Poxa, e vc teve um comentário do Min da Saude. Pq eles tambem não comentaram pq não dão assistencia ao dependente, pq não oferecem na rede pública mais vagas para tratamento e não criam comunidades para tanto. As famílias vendem tudo que tem pra tentar salvar a vida de seu familiar dependente e as entidades públicas???? Não vejo nenhum apoio deles, os que ainda tentam são as Instituições religiosas, de forma bem precaria. TEMOS QUE NOS UNIR? Tem sim é que o governo enxergar que esta enfrentando um problema grave e sério, que estamos perdendo não somente vidas, mas tb o futuro do nosso país.

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